Li o mais recente livro de Mia Couto durante as férias, mas como foi tema de debate no "Clube de Leitura", sábado passado, deixei para mais tarde.
Nunca tinha lido nada deste escritor (afinal de contas não se consegue ler tudo, né?). Não me surpreendi com a singeleza com que descreve usos e costumes africanos, os cheiros, as cores, os ruídos provenientes da savana. Sem dúvida, um mestre da escrita!
Confesso que de início estava encantada com o enredo - um médico português que se apaixona por uma mulata moçambicana e vai procurá-la à sua terra natal, Vila Cacimba, mas só encontra o velho pai dela, que se diz moribundo, e a mãe, uma vez que Deolinda está ausente num estágio profissional, e fica a aguardar pacientemente o seu regresso. Porém, à medida que a história vai avançando, vamos entendendo (ou não) que nada do que parece é, numa complexa teia de segredos e mentiras. Adultérios, vaidades, actos criminosos, racismo, a par de algumas crendices, prolongam-se ao longo de 188 páginas, sem que dê para perceber inteiramente o fio condutor do romance. Propositado? Certamente! Será que alguma vez vamos entender os costumes das gentes africanas, tão diferentes na forma de estar e de encarar a vida e a morte?
Resumindo: gostei da escrita, não do enredo! E a opinião, generalizada, dos restantes elementos do grupo também foi essa...
Evitando a frase mais óbvia, citada no postal que acompanha o livro (o meu exemplar não tinha), seguem algumas citações curiosas:
"Porque é que aqui, no meio de tão vastas poeiras indígenas, se varrem tanto os terreiros?"
"No fundo, o português não era uma pessoa. Era uma raça que caminhava, solitária, nos atalhos de uma vila africana."
"- Me receite um remédio para eu desmaiar.
O português ri-se. Também a ele lhe apetecia uma intermitente ilucidez, uma pausa na obrigação de existir.
- Uma marretada na cabeça é a única coisa que me ocorre.
Riem-se. [...]"
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Convém explicar que o "Clube de Leitura" não é propriamente uma tertúlia de intelectualóides, apenas meia dúzia de amigos que gostam de ler e desenvolver algumas ideias sobre os temas focados no livro escolhido.
A próxima "discussão" será no dia 22 de Novembro, sobre "Comer, Orar, Amar" de Elizabeth Gilbert.
Eu conheci a Mia Couto pela música de João Afonso, Malmequer (Não topei a música na rede, este vouno topar já mesmo. Obrigado
ResponderEliminarJá sabes pelos meus textos que gosto imenso da obra de Mia Couto, e de momento não me desiludiram os outros escritores africanos que vou encontrando no caminho. Este ainda não li, por ser o último, e ainda vou demorar. Mas já te digo que o Mia Couto tem um estilo peculiar e uma maneira brilhante de brincar com as palavras que adoro, e que sempre acaba por me arrancar um sorriso.
ResponderEliminarAdoro Mia Couto, mas este ainda não li.
ResponderEliminarNeste momento estou a ler "Perdadores" de Pepetela, este escritor Angolano......mas claro está que gosto muito de escritores que relatem africa, pois para quem lá nasceu e cresceu diz sempre muito todos esses usos e costumes.
Não tenho é tido muito tempo para ler, mas esse ficara na lista.
Beijokitas
Não sei onde estas ninas vão buscar tempo para ler tanto! Em tempos também eu tinha tempo para muitas coisitas, mas agora acho que ele, o tempo, encolheu ... sobram-me sempre tarefas por fazer, canudo :))
ResponderEliminarO meu filhote mais velho (27 anos) anda sempre com 1 livro atrás. Eu chamo-lhe "devorador de livros" ahahahah
jinhos
Não tenho lido esse escritor, mas o título leva-me a concluir que não há ninguém tototalmente santo nem totalmente diabo ... sou eu sou endiabrada de todo ahahahah
ResponderEliminarAgora a sério, um resumo que me despertou interesse, mas apesar de "endiabrada eléctrica" tenho de optar se leio ou se teclo, não?
Isto nas pequenas pausas do estudo, claro ahahahahah
estou com dificuldade de recomeçar a le, vulgo perguiça! Se visses a quantidade de livros que tenho em fila de espera! De Mia Couto conheço "a chuva pasmada" e gostei muito!
ResponderEliminarEstou um torcicolo, porque será??? è ao pé dp Califa
essa autora se fosse de outra raça poderia ser Ladra Couto ou Rosna Couto, não era?
ResponderEliminarEhhh como eles levaram marretadas na cabeça que chegasse, agora querem devolver à procedência e pagam os que lá estão ehhhhhh, que riso, há quem adore ler o Mia Couto, mas eu nunca li nem calhou, quem sabe um dia..beijinhos. remédio pra desmaiar, tinha razão, porretada e com força...
ResponderEliminarInteressante esse Clube da Leitura. E ainda bem que não é frequentado por intelectuais (quase todos com manias de esquerda e com "ares" superiores).
ResponderEliminarRetive outras coisas do post.
Com que então sempre existe raças! É que há praí muita gente, sobretudo ligada a movimentos dos direitos dos animais,vulgo Direitos Humanos, ah, ah, ah...diz que não. Bom, dizem pouco mais ou menos isso. Também não podemos generalizar.
Não li Mia Couto. Mas tenho lido sobre Mia Couto. Parece-me que é como a Teté diz, ou pelos menos que, ficou com essa ideia. As histórias são fracas, mas fica-se com a impressão que estamos em África sem sair do sofá.
Nunca estive inclinado a ler autores africanos, mas gostei do Pepetela. Vou tentar com Doris Lessing que ando para ler.
Um abraço
Conheci Mia Couto por essas bandas mas nunca li nada da autora.Enfim..ler é sempre muito bom.
ResponderEliminarÉ viajar sem sair de casa :)
Já lia contos de Mia Couto e gosto muito dele. Percebe-se melhor que o Luandino, que não consegui descortinar no meio de tanta giria de gentes africanas lol.
ResponderEliminarPor acaso fascinam-me as Africas e Americas do Sul retratadas em livros.
Mais um a juntar à lista...
Hummm... CONDADO, tenho de ouvir essa música, que pelo nome não me parece que conheça... (`_^)
ResponderEliminarÉ verdade que tem cenas muito engraçadas, SUN, mas achei africano demais (se assim se pode dizer), pois às tantas já ninguém percebe bem o que é verdade e o que é mentira. Supunha que gostavas mais do Luandino... (`_^)
Hummm... PARISIENSE, do Pepetela, depois de ter gostado tanto do Jaime Bunda das férias anteriores, tenho "Contos de Morte", um livro pequenino que não chega a 100 páginas, constituído por 5 contos.
Com este, confesso que me desiludi um bocado com o final.
Beijokitas para ti também!
Dois livros em 15 dias, não me parece lá grande recorde, PASCOALITA. Houve uma menina que costuma passar por aqui, que quando esteve de férias leu 13 livros em 3 semanas. Isso sim, já se assemelha a um recorde.
ResponderEliminarTambém ando quase sempre com um livro na mala, porque assim se tenho de esperar em algum lado, sempre me entretenho a ler em vez de desesperar com a demora... :)
Jinhos, nina!
É mais ou menos por aí, CUSQUINHA. Ou seja, nenhum deles se pode gabar de ter auréola... ;)
E é verdade: claro que quando se lê não se tecla e vice-versa!
Sim, sim, andas a aprender bonitas coisas na escola... :)))
Beijoquitas!
Também tenho uma pilha de livros em "stand by", INÊS! O tempo não dá para tudo!
Ah, ah, ah, andaste aqui perto sim senhora... :)))
Beijocas e melhoras para o torcícolo!
Autor, VÍCIO! Mas o nome é mesmo de mulher, coisas de África... :D
ResponderEliminarAh, estás a lembrar-te de umas portas do armário a cair-te na tola, LAURINHA? Mas pronto, perante o pedido, até o médico responde dessa maneira... :)))
Beijocas, nina!
Mas alguém tem pachorra de aturar gente armada em intelectualóide, CARLITOS? É que esses normalmente só gostam de ouvir a própria voz... ;)
Só um livro não chega para ter ideia sobre a vasta obra do autor, no caso, a "discussão" foi apenas sobre este título.
Também nunca tinha lido autores africanos, mas além deste já li 2 Jaimes Bunda do Pepetela e o último (?) do Agualusa. Falta-me "atacar" o Luandino. Mas sim, em todos eles se nota um "cheiro" a África...
Jinhos!
Se tiver de fazer uma classificação, gosto mais do Luandino, sim. Certo que me resultou mais difícil ao princípio de entender, mas agora, depois de ler quase toda a obra dele, acho que consegui. Mas, cá a gente não é pessoa dum só escritor (`_^). Dalguma maneira, estes autores 'africanos' lembram-me o realismo mágico da América do Sul.
ResponderEliminarO nome é de mulher, mas é um escritor, MYLLANA! :)
ResponderEliminarTens razão: Ler é mesmo viajar sem sair de casa! :D
Jinhos
VAN, nunca tinha tido grande curiosidade em autores africanos, daí ter ficado agradavelmente surpreendida. Da história deste não gostei muito, mas não há dúvida que o homem escreve deliciosamente. Luandino é que ainda não experimentei. Dos sul americanos já li mais, também gosto bastante. Agora estou a ler "Como Água para Chocolate", de Laura Esquivel. :)
Nem mais, SUN, a Van fez uma leitura semelhante, ao falar em africanos e sul americanos.
ResponderEliminarClaro que quem gosta de ler não se cinge a um só autor: olha o tédio! (`_`)
Do Luandino é que ainda não li nada, mas ainda hei-de experimentar (embora tenha muitos livros ainda em fila de espera)...
Teté, não consigo encontrar " biatriz e os corpos celestes" ;-(
ResponderEliminarQuanto a Mia Couto,de facto não me seduz mto.
E tb eu ando sempre com um livro no carro. Enquanto espero que a filha acabe as actividades, geralmente leio, ou livros ou revistas.
bjo 2u
Beatriz, sorry
ResponderEliminarNão conheço Mia Couto, e penso que nenhum outro escritor africano.
ResponderEliminarQue pena o início promissor ter gorado as expectativas. É muito chato quando um livro se 'perde' e chegamos ao fim e 'hein? o que é que aconteceu?!'
Agora fiquei foi curiosa para saber o que vai sair do debate sobre o livro da Elisabeth. Vi na Oprah e gostei da autora, e, pese embora o desconto dado ao histerismo da plateia que pretendia que aquele livro lhes tinha mudado a vida e o bla bla bla cor de rosa típico, I'm a changed person' fiquei curiosissima e até andei a ver em duas ou três livrarias se havia em versão original, mas não achei e o preço de capa achei excessivo e olha, já escaldada pela aquela treta do positivismo do 'Segredo', acabei por não comprar. Se for bom, ainda lá vou. Despacha-te a ler, para nos dizeres se vale a pena! :)
Beijoca
ANA, o livro é da Editorial Notícias, talvez pesquisando por aí encontres...
ResponderEliminarEntão não é uma boa companhia, quando se tem de esperar por alguém ou por sermos atendidas em algum local? Cá para mim é a companhia ideal... :)
Kisses 2U!
SAFIRITA, pois, o enredo foi um bocado desilusão.
Não li o "Segredo", mas uma amiga minha esteve numa palestra da autora e achou aquilo tudo uma treta. E livros de auto-ajuda, para mim, são sempre suspeitos (dos escritores quererem ganhar uma pipa de massa à conta da credulidade de muitos). É verdade que se a pessoa não tiver auto-confiança e tiver um espírito negativo, não chega a lado nenhum. Não me parece que seja o caso deste, que foi aconselhado por essa mesma amiga...
Mas depois digo-te, quando o ler, que não será para já, senão chego ao dia da "discussão" com uma branca na tola... ;)
Beijoca!
não é como terra sonâmbula, mas é um bom livro. apesar de tudo acho que o final fica um pouco difuso, não se percebendo muito bem qual a ideia do autor.
ResponderEliminaracho que valeu a pena o esforço e o temo investido :)
bom fim-de-semana
Claro que valeu a pena, FERNANDO, que o livro lê-se absolutamente sem esforço nenhum.
ResponderEliminarQuanto ao final, deixa estar que não foste o único que ficaste confuso...
Bom fim de semana para ti também!
Tete, o Luandino é como diz a Sun, dificil de entender, mas espectacular. Eu tive de desistir porque não estava a descortinar o enredo, mas hei-de lá voltar. Sempre adorei as gentes simples e as vidas simples de africa. Tal como as lutas da américa do sul.
ResponderEliminarPOr acaso estou a tentar acabar os contos do´livro olhos de cão azul, do garcia marquez, que muito aprecio, embora ache que ele se repete muito. Dos livros dele, o que mais estimo é o ninguem escreve ao coronel. E adoro o sepulveda, em especial o velho que lia romances de amor e a historia da gaivota e do gato que a ensinou a voar.
Já li como água para chocolate, e vi o filme. É bonito. Gostei mais da lei do amor, esse surpreendeu-me pela positiva e pela criatividade sobrenatural hehehehe.
Tete, obrigada por nos mostrares um mundo de livros :)
ResponderEliminarHonestamente, prezo imenso a tua opinião e adoro as tuas críticas literárias. ;-) Cada livro que descreves é mais um que me faz crescer àgua na boca. =)
Pois, VAN, a SU também me recomendou esse da Laura Esquivel, mas como tinha cá este dela para ler, "ataquei-o" primeiro. Dela já li "Tão Veloz como o Desejo", do qual também gostei muito.
ResponderEliminarE sim, esses do Sepúlveda também são os meus preferidos!
Do Gabo ainda tenho uns poucos em stand-by: é o que faz um deles não ser transportável na mala...
Nota-se que gosto muito de escrever sobre livros? É verdade! Especialmente (e quase exclusivamente) sobre aqueles que considero excepcionais... :)*
(embora este, como digo, ter um enredo um pouco confuso, de que não gostei particularmente)
Kisses 4U!
Bem, o gabo também é confuso, que ele é saltos na narrativa e no tempo narrativo que é uma confusão! Cheguei ao ponto de ter de apontar quem era quem para me ir lembrando, q isto de só ler um pouco antes de dormir tem essas desvantagens.
ResponderEliminarNão voltei a atacar as mulheres do meu pai...não só muda de tempo de narrativa, como de narrador, e uma pessoa baralha-se toda...
Do Gabo, adoro o ninguém escreve ao coronel, e os contos dele. O cem anos de solidão, já nem assim tanto...
Sim, VAN, o 100 anos de solidão tem de ser lido com alguma concentração...
ResponderEliminarCuriosamente já participei num desafio (noutro blog) sobre o "Ninguém Escreve ao Coronel", sem nunca o ter lido. Não correu lá grande coisa, que confundi 250 caracteres com 250 palavras, tive de abreviar muitíssimo. Fiquei em último... :)))
E sim, as mulheres do meu pai tem essa nuance de duas histórias paralelas, passada essa confusão inicial de duas narrativas diferentes, o enredo entende-se lindamente.
Já acabei o da Laura Esquivel e gostei bastante. Agora tenho de alugar o DVD, para ver se o filme acompanha... ;)
(normalmente gosto mais dos livros que dos filmes sobre eles)
será ke alguem me pode enviar o resumo deste livro preciso dele para kuarta feira por favor ajudem me
ResponderEliminardaqui ainda ninguem leu mia couto, caso contrario saberiam que se trata de um homem e nao de uma mulher...
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